Agora é pra valer: como torcedores e clubes se adaptam à biometria facial nos estádios
Lei Geral do Esporte, de 2023, determinou o uso obrigatório da biometria facial nos estádios com mais de 20 mil lugares; clubes tiveram dois anos para se adequar à medida

Osmar Neto
Bianca Nunes
Desde a publicação da Lei Geral do Esporte, em junho de 2023, os clubes passaram a ter dois anos para implementar algumas mudanças relacionadas à forma de acesso dos torcedores aos estádios. Uma das principais novidades está no artigo 148 da lei, onde é apontada a obrigatoriedade da identificação biométrica dos espectadores no momento de entrada nos eventos em arenas com capacidade para pelo menos 20 mil pessoas. Ou seja, o acesso deve ser feito, obrigatoriamente, por meio da biometria facial.
Essa medida utiliza a tecnologia a seu favor e tem como objetivo agilizar o acesso dos torcedores aos estádios, além de garantir maior segurança para os espectadores. Com o uso do reconhecimento facial, também é possível identificar torcedores com pendências na Justiça, colaborando com as autoridades.
“Enxergo com bons olhos. Não só para evitar que essas pessoas entrem em ambientes com grande público e causem distúrbios, mas também para saber por onde andam, caso usem o sistema”, afirmou Dênis Martins, torcedor do Palmeiras de 52 anos, ao SBT Sports.
Para que o torcedor tenha acesso ao ingresso, é necessário um cadastro prévio para a realização do reconhecimento facial. O sistema utilizado na verificação de identidade dos torcedores deve estar em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Apesar da agilidade e da segurança oferecidas nos estádios, a nova tecnologia pode apresentar alguns pontos negativos, como o risco de vazamento de informações, possível uso indevido dos dados e vulnerabilidade a ataques de hackers.
“Os contratos de adesão ninguém lê, e as pessoas apenas clicam em ‘ok’. Seria interessante haver uma consulta prévia sobre quais dados serão compartilhados e com quais instituições. Basicamente, o padrão deveria ser: ‘não compartilhamos nada e só o faremos com o seu consentimento’”, opinou o palmeirense.
Procurado pela reportagem, o Palmeiras garantiu a segurança dos dados de seus torcedores. O clube, que inaugurou o sistema em ainda em 2023, informou que as imagens faciais dos torcedores ficam criptografadas em nuvem certificada, acessível apenas por pessoal autorizado, e que cada acesso é auditável.
O clube também explicou que as catracas utilizam um sistema denominado "liveness detection", que serve para coibir tentativas de fraude. Para completar, o Alviverde afirmou que segue as normas da LGPD e exige que seus fornecedores façam o mesmo.
Fim do cambismo?
Além das questões envolvendo segurança relativas à tecnologia, a adoção da biometria facial também promete acabar com dois problemas que permeiam o futebol há muito tempo: a venda de ingressos falsos e o cambismo.
Com o novo método, não existem bilhetes físicos que podem ser falsificados, nem a possibilidade da compra massiva de ingressos para revenda ilegal, pois apenas a pessoa com a face cadastrada poderá acessar ao estádio com o ingresso referente a ela.
Esse aspecto da novidade também agrada aos clubes, que vinham sofrendo bastante com a questão e tentaram resolver o problema ao longo dos anos, mas sem muito sucesso.
"Eu fico muito satisfeita quando vejo que outros clubes e o próprio poder público estão empenhados em implementar a biometria facial em seus estádios. Além de ser uma forma extremamente eficaz de proteger os torcedores da atuação criminosa de cambistas, esta tecnologia pode ser uma ferramenta importante no combate à violência, contribuindo com as autoridades de segurança pública", disse a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, no fim de 2023.
Avanço ou retrocesso?
Alguns saudosistas podem sentir falta de guardar o ingresso físico na gaveta de casa, mas até entre os mais velhos a biometria facial parece ter agradado. Dênis Martins, por exemplo, contou que o fluxo de entrada no estádio ficou mais rápido com a nova medida, mas ressaltou que é essencial a presença de funcionários nas catracas para corrigir eventuais falhas.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de métodos paralelos de entrada nos estádios, Dênis hesitou, mas declarou que preferia manter apenas o reconhecimento facial.
Os clubes também parecem estar satisfeitos com a mudança. O Palmeiras, por exemplo, enfatizou que apoia o novo sistema e destacou benefícios como a agilidade no acesso e a redução do cambismo.
Fim das filas?
A agilidade apontada por torcedores e clubes encontra respaldo nos números. De acordo com a Bepass, empresa especializada em biometria facial e responsável pela implementação do sistema em diversos estádios do país, incluindo o Allianz Parque, cerca de 40% dos acessos ocorrem nos 30 minutos que antecedem o início das partidas — e o reconhecimento facial tem acelerado significativamente esse fluxo.
“No nosso caso, os torcedores conseguem entrar no estádio em até dois segundos. Nosso sistema é três vezes mais rápido do que os métodos tradicionais, permitindo até 25 acessos por minuto. Além disso, eliminamos toneladas de emissões de CO₂ e reduzimos consideravelmente os resíduos plásticos”, afirmou Ricardo Cadar, CEO e fundador da Bepass.